O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024, realizado neste domingo, 3 de novembro, apontando que a prova incluiu uma série de temas sociais que, em sua visão, refletem uma “agenda woke” promovida pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O termo “woke” é frequentemente usado para descrever pautas progressistas voltadas para a justiça social, incluindo temas como igualdade racial, direitos LGBTQIA+, feminismo e questões ambientais.
Bolsonaro afirmou que o governo Lula está direcionando o pensamento dos jovens, reforçando uma “doutrinação ideológica” que, segundo ele, tem o objetivo de moldar as opiniões e valores dos estudantes brasileiros. “A doutrinação ideológica que o sistema acusava os outros de fazerem segue agora mais forte que nunca na gestão do filho que alçaram ao poder”, afirmou Bolsonaro, criticando a abordagem do governo atual na área educacional.
O ex-presidente também relacionou a escolha do tema da redação do Enem 2024 — “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil” — a uma estratégia de subdesenvolvimento promovida por progressistas, os quais, segundo ele, estariam travando o avanço do país.
De acordo com o Ministério da Educação, o Enem deste ano teve mais de 4,3 milhões de inscritos. Além do tema de redação, o primeiro dia do exame apresentou 90 questões, divididas entre linguagens (português, literatura e língua estrangeira) e ciências humanas (história, geografia, filosofia e sociologia).
Análise: Enem 2024 e a crítica ao viés ideológico no exame educacional
A crítica de Jair Bolsonaro ao Enem 2024 reflete uma visão recorrente entre setores conservadores de que a educação no Brasil vem sendo usada como um veículo para promover pautas progressistas, distantes das reais necessidades de formação dos jovens. Para os conservadores, o foco em temas como justiça social e herança africana, ainda que importantes, acaba marginalizando outras áreas do conhecimento que são essenciais para a capacitação técnica e o desenvolvimento do país.
A abordagem da redação, que trata dos desafios para valorizar a herança africana, é vista por muitos à direita como uma tentativa de reforçar uma narrativa focada exclusivamente em identidades e questões sociais, em vez de estimular uma educação centrada na meritocracia e no desenvolvimento econômico. A crítica se intensifica quando se considera o impacto de uma suposta “agenda woke” nas escolas, promovida por um governo que, em sua visão, tenta orientar o pensamento dos jovens em direção a uma visão política específica.
Para os analistas de direita, a escola deve ser um espaço de formação que prepare os jovens para o mercado de trabalho e para desafios econômicos e técnicos, além de desenvolver o pensamento crítico de maneira ampla e sem viés ideológico. A constante inclusão de temas de justiça social em exames como o Enem é percebida como uma forma de doutrinação, que induz os estudantes a adotarem determinados posicionamentos em detrimento de uma visão mais plural e equilibrada.
Em resumo, as críticas ao Enem deste ano refletem o debate sobre a função da educação pública: enquanto setores progressistas defendem uma educação que valorize e discuta temas sociais amplos, o campo conservador enfatiza a importância de uma formação voltada ao desenvolvimento intelectual e econômico, livre de doutrinações que possam limitar a liberdade de pensamento dos estudantes.