Na quinta-feira (31.out.2024), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma declaração irônica ao se referir ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), ao dizer que conheceu o “único Estado sem problemas de segurança”. A fala ocorreu durante o discurso de encerramento de uma reunião sobre segurança pública no Palácio do Planalto, onde Caiado havia afirmado que conseguiu erradicar o crime em Goiás, além de criticar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do governo federal.
Lula, com um tom bem-humorado, comentou: “A segurança é uma situação muito complicada no Brasil inteiro. Hoje, conheci o único Estado que não tem problema de segurança, que é Goiás. Peço ao Lewandowski que vá lá verificar, porque pode ser uma referência para todos os outros governadores. Ao invés de eu convocar uma reunião, deveria ser o Caiado a organizá-la para orientar como resolver a questão da segurança em cada Estado.”
Em resposta, Caiado não hesitou em defender sua posição, considerando a PEC do governo “inadmissível”. Ele argumentou que a proposta, ao permitir que o governo federal estabeleça diretrizes gerais para a segurança pública, representa uma usurpação de poder, invadindo prerrogativas que já são garantidas aos governadores. “O governo federal deveria focar em um pacto internacional, pois são apenas três ou quatro países que produzem cocaína: Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia,” acrescentou.
O encontro, que visava apresentar a PEC preparada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, foi marcado pela abertura ao debate. Lula ressaltou que, embora houvesse recomendações para não transmitir a reunião ao vivo por receio de críticas, decidiu torná-la acessível para estimular um diálogo amplo sobre a segurança pública.
Após a reunião, Caiado reiterou a gravidade do tema, afirmando que não cabe ironias, pois se trata de um assunto sério que impacta diretamente a vida dos cidadãos.
Análise
O recente embate entre Lula e Caiado sobre a segurança pública revela uma clara dicotomia nas abordagens de governança entre o governo federal e os estados. Enquanto o presidente faz uso do humor e da ironia como ferramentas retóricas, o governador adota uma postura mais assertiva, defendendo a autonomia estadual e a responsabilidade local em lidar com o crime.
A afirmação de Caiado, de que Goiás se tornou um exemplo de segurança, pode ser vista como uma tentativa de destacar o sucesso de sua administração, mas também levanta questões sobre a veracidade das alegações em um contexto nacional marcado por altos índices de violência. Por outro lado, a crítica à PEC do governo federal, que busca centralizar diretrizes de segurança, reflete um temor legítimo de que as competências dos estados sejam minimizadas em nome de uma estratégia nacional.
Lula, ao abrir espaço para o debate, busca engajar os governadores e a sociedade civil, mas é crucial que essa discussão não se torne um palco para ironias, mas sim um fórum onde soluções concretas possam ser debatidas. A segurança pública é um tema que transcende fronteiras partidárias e exige um compromisso coletivo.
No final das contas, o que realmente importa é como ambos os lados podem colaborar para enfrentar um dos maiores desafios do Brasil. Se a ironia de Lula e a firmeza de Caiado podem ser traduzidas em ações efetivas, talvez possamos vislumbrar um caminho mais promissor para a segurança de todos os cidadãos.