Trump Eleito: Economista de Gestora de R$ 132 Bi Afirma que ‘Queremos Ficar Fora da Bolsa Brasileira

A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos trouxe um novo cenário de incerteza para os mercados globais, e a Bolsa brasileira, tradicionalmente influenciada por decisões de política externa e o ambiente econômico internacional, não está imune aos impactos dessa vitória. Para André Diniz, economista-chefe da Kinea, uma das maiores gestoras de recursos do Brasil, com R$ 132,7 bilhões sob gestão, o cenário atual exige uma postura de cautela em relação à exposição no mercado de ações local. Diniz afirmou que, devido ao contexto tanto interno quanto externo, a gestora está optando por “ficar fora da Bolsa brasileira” no momento.

Contexto Econômico: Problemas Internos e Externos

Em seu comentário, Diniz explicou que o Brasil vive uma combinação de dificuldades internas e externas que tornam o mercado local mais arriscado. No cenário externo, a vitória de Trump pode provocar novas tensões comerciais e políticas fiscais que afetariam a economia global, especialmente os mercados emergentes, como o Brasil. Já internamente, o Brasil enfrenta desafios fiscais consideráveis, com o governo pressionado a cortar gastos para manter o equilíbrio dentro do teto de gastos. “A Bolsa no Brasil está mais para ‘ponta vendida’”, afirmou o economista, referindo-se à sua visão pessimista do mercado de ações brasileiro em meio à atual situação econômica.

Diniz também destacou que, enquanto o Brasil está em um ciclo de alta de juros, os Estados Unidos, sob a gestão de Trump, podem estar em um ciclo contrário, com um possível corte de juros, ainda que de forma lenta. Essa diferença nas políticas monetárias pode trazer volatilidade ao mercado de câmbio e fortalecer o dólar, o que prejudicaria ainda mais as economias emergentes. “A tendência é que o real ganhe um pouco de carrego a seu favor”, pontuou, referindo-se à valorização da moeda americana frente ao real.

O Impacto de Trump no Mercado Brasileiro

A eleição de Trump pode desencadear uma série de repercussões para o Brasil. A proposta de uma política comercial mais agressiva, incluindo tarifas mais altas e uma postura protecionista, tem o potencial de aumentar a volatilidade global e diminuir a atratividade dos mercados emergentes. O Brasil, que já enfrenta uma situação fiscal delicada e dificuldades estruturais em sua economia, pode ser um dos maiores afetados por essas políticas, pois os fluxos de capitais poderiam se concentrar em mercados mais estáveis, como os Estados Unidos, enquanto os investidores se distanciam de economias mais vulneráveis.

“Acho que a vitória de Trump foi bastante consistente. Ele provavelmente vai dominar todos os swing states [estados decisivos] e, mesmo em estados tradicionalmente democratas, a performance de Kamala Harris foi pior do que a de Biden em 2020”, observou Diniz, destacando que o resultado das eleições reflete um país mais polarizado e um governo dos EUA mais focado em suas próprias questões internas. Para os mercados, isso significa que as incertezas vão se acentuar, e o Brasil, já com um cenário fiscal difícil, precisará lidar com a possível redução dos fluxos de investimentos externos.

Desafios Fiscais e a Expectativa para a Política Econômica

Dentro do Brasil, a expectativa é que o governo precise se adaptar rapidamente para conter o crescente déficit fiscal. O Copom (Comitê de Política Monetária) se reúne esta semana para decidir sobre a Selic, e a expectativa é de um aumento de 0,5 ponto percentual, para 11,25%. O aperto fiscal interno é um fator que já vinha impactando a confiança dos investidores, e o governo de Trump pode trazer mais desafios para o Brasil no curto e médio prazo.

Além disso, Diniz destaca que a política fiscal dos Estados Unidos também deve ser acompanhada de perto, pois a combinação de cortes de impostos para empresas e a necessidade de equilibrar o orçamento pode gerar um aumento nas tensões comerciais. Uma política externa mais agressiva de Trump, somada à tentativa de reverter os déficits fiscais internos dos EUA, pode resultar em um dólar mais forte e mais incertezas para países como o Brasil, que dependem de exportações e do fluxo de capitais externos.

A Visão do Mercado para os Países Emergentes

A postura mais combativa dos Estados Unidos, sob Trump, é vista com cautela por investidores e analistas, especialmente em mercados emergentes como o Brasil. De acordo com Diniz, os fluxos de capital internacional tendem a se desviar dos mercados emergentes em um cenário de maior incerteza política e comercial. A China, principal parceira comercial do Brasil, também está na linha de mira de Trump, o que pode agravar ainda mais a situação para economias que dependem de exportações para os dois maiores centros econômicos do mundo.

“É um governo que traz mais problemas e mais ruídos para os mercados, especialmente com uma política comercial mais agressiva em relação ao resto do mundo”, afirmou Diniz. Ele acredita que, com os Estados Unidos adotando uma postura mais protecionista, os mercados emergentes como o Brasil enfrentarão um ambiente mais difícil para atrair investimentos e sustentar o crescimento econômico.

O Futuro para o Brasil: Desafios e Oportunidades

O cenário global pós-eleição de Trump exige do Brasil uma abordagem estratégica cuidadosa. Embora haja preocupações em relação a uma possível desaceleração no fluxo de investimentos externos, o Brasil poderá encontrar oportunidades em algumas áreas específicas, como commodities, caso haja uma mudança nas dinâmicas globais. No entanto, o risco de instabilidade política e fiscal interna, aliado ao cenário externo, faz com que a gestora Kinea adote uma postura mais conservadora e menos exposta aos riscos do mercado de ações local.

A vitória de Trump, portanto, intensifica a necessidade de o Brasil ajustar suas políticas econômicas e fiscais para lidar com um ambiente global mais instável, com desafios tanto do ponto de vista externo quanto interno. No entanto, os próximos meses serão decisivos para determinar o impacto real dessa vitória sobre a economia brasileira, e, por ora, as gestoras de recursos preferem cautela.

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